A Pombagira das Almas é uma entidade espiritual profundamente ligada ao mistério da morte, da ancestralidade e da transformação. Ela atua nas encruzilhadas espirituais entre o mundo dos vivos e o dos desencarnados, sendo mensageira e guardiã que carrega a força da noite, do silêncio dos cemitérios e da sabedoria ancestral.
🔮 Quem é a Pombagira das Almas
A Pombagira das Almas é conhecida como guardadora dos campos santos e senhora dos portais entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Sua força se manifesta principalmente nos cemitérios e encruzilhadas de almas, lugares onde ela exerce domínio e poder espiritual. Diferencia-se de outras manifestações de Pombagiras por sua íntima ligação com a energia da morte, do luto e da transformação, sendo uma das guardiãs mais temidas e respeitadas dentro da Umbanda e da Quimbanda.
Sua conexão direta com o orixá Obaluaê/Omulu, senhor dos cemitérios, da peste e da cura, confere-lhe autoridade sobre processos de desencarne, transição espiritual e cura das doenças da alma. Por isso, costuma ser invocada em trabalhos de descarrego profundo, de libertação de obsessores e de alívio de sofrimentos espirituais.
A Pombagira das Almas trabalha com os espíritos sofredores, acolhendo-os em sua dor, ensinando-os a encontrar luz e encaminhando-os para processos de evolução. Ao mesmo tempo, oferece aos vivos proteção contra demandas, defesa espiritual, abertura de caminhos e aconselhamento firme e direto. Muitas vezes, suas mensagens chegam em tom duro, porém carregado de verdade e sabedoria, levando o consulente a refletir sobre seus atos e escolhas.
📖 Segundo Reginaldo Prandi, “a Pombagira das Almas atua na fronteira entre a vida e a morte, sendo guardiã daquilo que está oculto e dos segredos ancestrais”. Essa posição liminar é o que lhe permite lidar tanto com as dores humanas mais profundas quanto com os mistérios da ancestralidade, tornando-se uma das entidades mais respeitadas e temidas de sua falange.
🌑 Origem e Simbolismo
A Pombagira das Almas pertence ao Reino das Almas, governado por Exu Rei das Almas (Omulu) e pela própria Rainha das Almas. Ela atua nos cemitérios, necrotérios, hospitais, velórios e cruzeiros, lugares considerados portais entre vivos e mortos, onde o fluxo de energias de transição é mais intenso.
Sua origem está ligada ao culto ancestral africano aos eguns (espíritos dos mortos), transposto para o Brasil através do Candomblé e da Umbanda. No Candomblé, essa ligação se manifesta pelo respeito a Obaluaiê/Omulu, Nanã e Iansã, todos orixás diretamente relacionados ao ciclo da morte e à transformação espiritual.
Na Umbanda, a Pombagira das Almas aparece como falangeira da linha das Almas, auxiliando Exu Caveira, Exu Tranca-Ruas das Almas e outros guardiões da Calunga. Já na Quimbanda, assume uma face mais sombria e profunda, senhora de segredos, alquimia e feitiços de poder sobre vida, morte e desejo.
📌 Simbolismo:
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Representa a morte como passagem, não como fim.
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É símbolo de purificação, desapego e transformação.
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Ajuda na transmutação da dor em aprendizado.
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Sua imagem tradicional se liga às cores preto e vermelho, rosas vermelhas, gargalhadas graves e roupas sensuais, que unem sedução e força ancestral.
⚔️ Funções Espirituais
A Pombagira das Almas é reconhecida pela firmeza em seus trabalhos espirituais. Entre suas funções, destacam-se:
🛡️ Proteção
Cria barreiras contra espíritos perturbadores e ataques energéticos, sendo guardiã de cemitérios e encruzilhadas espirituais.
🔥 Descarrego
Trabalha com grande poder de limpeza, removendo energias densas e miasmas que adoecem a alma. Muitas vezes atua em conjunto com Exu Omulu e Tatá Caveira.
🌹 Amor e Relações
Ajuda a romper laços afetivos destrutivos, libertando da obsessão emocional. Diferente de outras Pombagiras, não é apenas sedutora: sua função é também curar corações partidos e ensinar o desapego.
🕯️ Conexão Ancestral
Facilita o contato com antepassados, reforçando a memória espiritual e a noção de continuidade entre vida e morte.
🌑 Cura Espiritual
É procurada em casos de luto, depressão e dores profundas. Sua força auxilia no renascimento interior, ensinando que cada perda pode ser transformada em sabedoria.
📖 Como bem resume Norberto Peixoto:
“A Pombagira das Almas é mestra em ensinar que a verdadeira cura nasce da aceitação da vida e da morte como partes de um mesmo ciclo.”
🕯️ Rituais e Oferendas
Os rituais dedicados à Pombagira das Almas são cercados de mistério, respeito e reverência, pois lidam com a força ancestral da morte e da transformação. Realizam-se geralmente em encruzilhadas de cemitérios, cruzeiros das almas, portais de passagem ou em altares preparados em casa, sempre com a devida orientação espiritual para evitar desequilíbrios energéticos.
Dentro da Umbanda, as oferendas têm caráter de culto e sustentação energética, firmando a presença da entidade para que ela auxilie nos trabalhos. Já na Quimbanda, adquirem um tom mais mágico e operativo, voltado à abertura de caminhos, à libertação de amarras e à realização de desejos.
📌 Principais elementos e seus significados:
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Velas pretas e vermelhas → abrem portais e firmam a energia da entidade, representando a dualidade vida/morte, desejo/purificação.
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Flores brancas e vermelhas → unem paz, pureza e paixão, equilibrando forças de doçura e intensidade.
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Bebidas (anis, vinho doce, champanhe ou cachaça) → atraem sua força festiva e libertadora, despertando a alegria e a sensualidade da Pombagira.
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Cigarrilhas ou charutos finos → agradam à entidade, evocando presença, prazer e vitalidade.
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Doces (balas, bombons, bolos) → adoçam os caminhos, transmutam energias densas e trazem suavidade para o consulente.
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Pães, frutas escuras (uva, ameixa, figo) → em algumas casas, simbolizam nutrição espiritual e renovação da energia vital.
Esses elementos não devem ser vistos como “presentes” para comprar favores, mas sim como chaves de conexão entre o plano material e o espiritual. A oferenda é uma forma de reverência, gratidão e devoção, onde cada detalhe carrega um valor simbólico profundo.
Como lembra Alexandre Cumino, no contexto da Umbanda, “a oferenda é antes de tudo um ato ritualístico de equilíbrio e comunicação com as forças espirituais, jamais um comércio com os guias”.
⚰️ Mistérios das Almas
A Pombagira das Almas caminha na delicada fronteira entre luz e sombra, transitando nos portais que unem vivos e mortos. Seu maior mistério é ser mestra da dor transformada em sabedoria: cada consulta, cada palavra e cada gesto de sua presença conduz o consulente a mergulhar em si mesmo, enfrentando verdades que muitas vezes são evitadas.
Nas giras, sua manifestação é inconfundível. Relatos a descrevem chegando com passos firmes e compassados, olhar profundo e magnético, gargalhadas que ecoam pelo ambiente e um campo energético denso e ao mesmo tempo acolhedor. Sua imagem clássica é marcada pelas roupas pretas e vermelhas, muitas vezes adornada com rosas, joias, leque ou taça de vinho, símbolos que expressam sua natureza de senhora da sedução e da força ancestral.
🌑 O Encontro com a Sombra
Trabalhar com a Pombagira das Almas significa confrontar a si mesmo. Ela não suaviza a verdade: fala com dureza quando necessário, mas sempre com a intenção de despertar consciência e justiça. Como destacam os estudiosos da Umbanda, as entidades da esquerda — Exus e Pombagiras — são espelhos da sombra humana, trazendo à tona vícios, vaidades e dores ocultas para que sejam reconhecidos e transformados.
Esse aspecto é essencial para compreender seu mistério: ao revelar o que está escondido, ela oferece a oportunidade de cura pela aceitação e pela coragem de olhar para dentro.
🌹 Senhora dos Mistérios
Em sua atuação, a Pombagira das Almas é vista como guardiã dos portais da morte, mas também como conselheira poderosa. Sua risada, muitas vezes descrita como grave e cortante, simboliza a quebra das ilusões humanas e o chamado ao desapego. Suas palavras podem ser ríspidas, porém carregam um amor profundo, que se manifesta como justiça implacável e compaixão oculta.
Assim, ela ensina que a verdadeira força espiritual nasce da integração entre luz e sombra. Ao lado dos Exus das Almas, auxilia no resgate de espíritos perdidos, conforta os vivos em momentos de luto e desperta a coragem para seguir em frente.
📖 Como lembra Reginaldo Prandi, o arquétipo das Pombagiras “traz consigo tanto a intensidade da paixão quanto a sabedoria da dor”, revelando-se como expressão feminina do mistério das encruzilhadas da vida e da morte.
🌹 A Pombagira das Almas na Atualidade
Nos dias de hoje, a Pombagira das Almas continua sendo uma das entidades mais procuradas dentro da Umbanda e da Quimbanda, justamente por sua atuação direta nas dores humanas mais profundas. Sua força é especialmente buscada por:
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Pessoas em luto ou sofrimento profundo → Ela atua como guia no processo de aceitação e superação da perda, amparando tanto os vivos quanto os espíritos desencarnados.
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Aqueles que buscam cura espiritual e emocional → É chamada em casos de depressão, traumas e dores que parecem não ter saída, trazendo alívio e renovação.
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Devotos que necessitam de proteção contra demandas e forças negativas → Sua ligação com os portais da morte lhe confere grande poder de afastar obsessores, espíritos perturbados e magias densas.
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Quem precisa de coragem para romper ciclos dolorosos de vida → Seja em relacionamentos destrutivos, vícios ou padrões repetitivos, a Pombagira das Almas ensina o desapego e a libertação.
✨ Seu papel hoje vai além da religiosidade tradicional: muitas pessoas a procuram como força arquetípica de empoderamento feminino e de enfrentamento das sombras internas. Em um mundo onde o sofrimento psíquico cresce, sua energia se revela como um bálsamo espiritual e psicológico, convidando o devoto a transformar a dor em aprendizado.
Apesar dos avanços da modernidade e da urbanização da espiritualidade, sua presença nos terreiros permanece viva e necessária. Nas giras, ela mostra que a verdadeira evolução não acontece sem disciplina, coragem e autoconhecimento.
Assim, a Pombagira das Almas reafirma, mesmo no século XXI, que o caminho da libertação espiritual passa pela aceitação dos ciclos da vida e da morte — lembrando-nos de que até a dor pode ser mestra quando vivida com consciência e fé.
📖 Como lembra Reginaldo Prandi em seus estudos sobre os arquétipos das entidades femininas afro-brasileiras:
“As Pombagiras representam não apenas o poder da sedução e da transgressão, mas também a sabedoria adquirida no enfrentamento da dor e da perda, revelando-se como guias de transformação interior.”
✨ Conclusão
A Pombagira das Almas é uma das entidades mais misteriosas e poderosas dentro da Umbanda e da Quimbanda. Sua força vem do contato direto com os mistérios da morte, da ancestralidade e das encruzilhadas espirituais, mas sua missão é profundamente ligada à vida: ela traz cura, proteção, libertação e sabedoria para aqueles que a buscam com respeito.
Conectar-se com essa entidade é abrir-se para a transformação espiritual. É compreender que a morte não é um fim, mas uma passagem, e que a verdadeira magia está em aceitar os ciclos da existência — nascimento, crescimento, perda, dor, morte e renascimento.
Cultuar a Pombagira das Almas significa caminhar ao lado de uma guia que não teme mostrar as verdades ocultas e que, através da força da dor, ensina a grandeza da superação. Para o devoto, suas giras não são apenas momentos de pedir ajuda para problemas terrenos, mas sim oportunidades de mergulhar em ensinamentos profundos sobre a alma humana, sobre o desapego e sobre o poder da fé.
Assim, a Pombagira das Almas revela-se como ponte entre mundos: guardiã dos mortos e conselheira dos vivos. Ao seu lado, aprendemos que a vida só encontra sentido quando aceita a morte como parte inseparável do caminho, e que cada fim é, na verdade, um recomeço.
📖 Como ensina Norberto Peixoto:
“A Pombagira das Almas nos lembra que a verdadeira cura não está em negar a morte, mas em reconhecê-la como mestra da vida.”

Pai José de Aruanda é um espiritualista dedicado ao estudo e à prática das energias de Exu e Pombagira. Com anos de experiência no culto e na vivência dessas entidades, ele compartilha seu conhecimento com o intuito de desmistificar e honrar a força desses orixás. Seu trabalho busca proporcionar um entendimento profundo sobre as culturas e tradições afro-brasileiras, transmitindo sabedoria ancestral com respeito e autenticidade.